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27 agosto 2010

Inquebrantável amor...livre

Amo-te
Pra sempre cativa
Inquebrantavelmente
Talvez eternamente
Livre dos grilhões
Das máscaras frias
Das hipocrisias
Do passado dolente
Findo e tão latente
Liberta
De interesses outros
Tão presentes
Em ouvidos moucos
De verdadeiro amor

Amo-te
Pra sempre cativa
Em eterna essência
Ainda que me troques
Por corpo escultural
Buscando aparência
Em vingança urgente
Visando sedação
Da tua dor
Por espatifado amor
Rompendo a corrente
Que sem grilhões
Te torna preso
Indefinidamente


Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

25 agosto 2010

II - O braço sai


Não foram poucas as dificuldades para ser compreendida, nesses anos em que meus pés estão, em absoluta greve, reivindicando melhores condições medulares.

E...enquanto isso...há os que superprotegem, os que ajudam, os que se condoem, os que jamais deixaram que a cadeira sobrepujasse ao quem sou, em plano primeiro.

De tudo um pouco, e de pouco em pouco grandes e queridos amigos, cada qual com sua visão.

Da memória, no entanto, já que agora o armário continua ocupado pela meiguice, surgem tais lembranças, que resolvi postar em crônicas.

Um dia, algum tempo após a véspera, fui obrigada a comparecer a um determinado ponto em São Paulo.

Obrigatório que eu lá estivesse. O local possuía uma imensa escada. Verdadeira parede de degraus.

Em nossa inexperiência, meu marido e eu, resolvemos que eu iria no seu colo e um senhor, amável colaborador, subiu primeiramente com a cadeira de rodas, meu então atual sapato especial.

Conseguimos assim vencer a barreira, que não existia, ainda, a tal lei “legal” para adaptação dos prédios públicos.

Cumprida a tarefa, restava-nos o caminho da volta. Descer nem sempre é mais fácil que subir e a história de que pra baixo “todo santo ajuda” pode provocar uma verdadeira hecatombe.

No entanto, ao olhar ao redor, vi um contigente de pessoas ali a trabalho e resolvi pedir ajuda, diante do olhar estupefato de meu marido que, muitas vezes, olhou o que eu fazia, assim.

Todos, sem exceção, se prontificaram a ajudar, em conjunto.

Eu usava uma cadeira alugada, até então, pois ainda precisava conhecer como é que esse novo mercado funcionava e o que oferecia para pés em greve.

De repente me lembrei de algo importante e disse... “Moço, cuidado, que o braço sai”.

Em menos de segundos, não tínhamos ninguém ao nosso lado...sumiram todos.

Olhamos um para o outro, meu marido e eu, e o riso foi tão simultâneo quanto à conclusão a que chegamos de imediato.

Eles imaginaram que era o meu braço..., e não o da cadeira, que saíria.

A vida nos oferece momentos que podemos ter como dolorosos ou coloridos e...esse ficou como um momento colorido, sim, pela cor do desconhecimento e da pane que causou...de forma, até então, bem engraçada.

Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

Crônicas de Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
II – O braço sai...


23 agosto 2010

Crônicas de Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

Momentos
 I – A véspera


Não é sempre que conseguimos grandes vitórias nos embates da vida, mas, nós, de verdade, conseguimos.

No dia anterior nos abraçamos logo ao raiar do dia e foi tanto amor que o sol se ofuscou enciumado.

No dia da véspera, um domingo lindo, juntos corremos pra completar as tarefas de casa em que um casal, com um bebê de dez meses, uma linda menininha, sabe bem o quanto precisa correr, se quiser sair, logo após o almoço.

Arruma a casa, o almoço, o banho da pequena criatura, a roupa mais bonita escolhida a dedo, vestidinho vermelho com xadrez bem pequenininho e sapatinho a combinar, a sacola, fraldas descartáveis, fraldas de pano, uma toalha, sabonete, mamadeiras, sopinha da janta, fruta, roupinha, agasalho, e também o bebê conforto acoplado ao carrinho, pra que o nosso bebezinho, possa estar bem confortável.

E enquanto você se arruma o outro cuida de entreter a menininha que não para quietinha em lugar nenhum. Que linda! Bate palminha e ri a gargalhar com a festa de brincar que lhe faz o pai. Inesquecível cena!

Desde o amanhecer há música na “vitrola”.

E aí é a sua vez, você está recendendo ao melhor perfume, em sua roupa nova, cheia de charme, nos píncaros de seus sapatos altos e seu cabelo absolutamente esvoçoante e lindo, quando após o suquinho, a meninha resolve devolvê-lo inteirinho sobre você.

Aí você se troca e passa do charme e do esvoaçante ao casual, numa pantalona simples, uma blusa longa, um lenço lateral, uma sandália franciscana e desencana e vai, tão feliz, tão sem igual.
Feliz por uma noitada boa. Alegre por um dia bem vindo, trazendo no corpo a tatuagem do amor e no colo a realização feita criança, filha.

Enfim no carro, vamos à festa e os sorrisos e a alegria no encontro dos grandes amigos, e depois no aniversário de gente que espera a sua chegada pra completar mais um ano de vida.

Não me esquecerei daquele dia nove de novembro, daquele tão especial aniversário. Eu sempre amei aniversário dos outros, porque o meu como cai em feriado sempre aproveitei pra viajar, aliás, lembrem-se, dia vinte e um de abril.

As crianças pequenas, primas que nasceram semi juntas, uma num dia outra no outro. Uma trabalheira danada, mas finalmente quando você chega em casa, cansada, estourada, e vê a filhotinha dormindo como anjo, fica a olhar devagarinho descobrindo cada pedacinho do corpo casa que você e o outro construíram com a argamassa do amor.

Noite alta, semi luz, que acode o sono de mansinho, abraçados, encaracolados, no pedaço dividido de uma cama de casal, tão grande abrigo.

E, de repente, soa o despertador e a São Silvestre começa, novo dia, mesmo horário, mesma pressa, um beijo semi acordado e um lampejo reprimido fazem da tônica o dia.

Cadê meus óculos, onde coloquei os meus sapatos? Vou chegar atrasada. E a Dona Wanda que não chega. Acorda! Vem me ajudar. Preciso sair. Você vai me levar?
Um carro só e a Dona Wanda chegou, você me levou e eu nunca mais voltei.

No retorno, no entorno da vida, o acidente pavoroso me levou a capacidade de andar, mas não a de ser companheira, e quem retornou já não fui mais eu, era outra que aprendia, de repente, todo dia, uma nova e inesquecível lição, da vida vivida e daquela vida nova.

Sobrevivi a mim mesma e quando essa outra, que hoje sou eu, chegou e viu aquele pequeno ser a sorrir e a dizer “mamãe”, se fez forte eternamente.

Sobrevivi a mim mesma, quando observei que a casa havia sido transformada em passagem possível pra minha cadeira de rodas, e a Dona Wanda, sorrateira, disse: Ele sentou-se na sua cadeira pra arrumar todo o espaço e indefinidamente eu me fiz cativa daquela fala, daquele momento especial que me fez novamente inteira.

E nesse dia em homenagem a ele eu me levantei etérea...e assim seguimos ora sentados juntos numa mesma cadeira, ora abraçados juntos como se um apenas no colo do outro andasse.

E a véspera se fez saudade indefinidamente...

18 agosto 2010

Adeus meiguice

Um dia briguei com a meiguice
Porque o meu pranto era latente
A minha dor era doente
A minha realidade era dura
A doença competia com a vida
E a vida competiu com a morte
E  levou o tesouro do meu amor e norte
E sofri tanto, mas tanto, e tão sentidamente
Que coloquei a meiguice de castigo
Dentro do guarda roupa do meu quarto
Esquecida indefinidamente
E só assim o meu pranto acabou
A minha dor amainou
A realidade passou a ser o que eu queria
Meu nome era Força, era Trabalho
União, Nostalgia, Amizade, Lealdade
Fúria, Rebeldia, Destemor, Temor, Braveza
Realeza, Aspereza, Soberba, Amor, Arrogância
Riso, Alegria
Um pouco de cada, em cada canto
Em cada gesto
Em cada dia
E a vida nunca mais competiu com a morte
E ninguém se atreveu ao mote
De repente eis que por um descuido
Um desses sentimentos puros
Que você imagina não acabará jamais
Fui convocada pelas sensações
Que me aliciaram e arrebataram
Docemente em palavras tão sonoras
Em gestos tão sinceros
Em tão bonitos modos
Tão falsa assim seria a minha leitura?
Preponderou a beleza da amizade
A certeza da sinceridade
De ser querida e estimada
E mais ainda eu queria e estimava
Além do mais agradecia
E mais que tudo
Eu confiava
Provas não faltaram
Eu as tive
Valorizei todas
Diamantes raros
Feitos vidros de substâncias mágicas
Estáticas
Poções, Goles
No cofre do coração
Esse perfume inebriante
Ainda que falho
Carregarei comigo vida afora
Mas você meiguice
Diga adeus
Porque estou fora.

Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

15 agosto 2010

Quimeras da paixão


Da paixão nasceram dias
De rara felicidade
E extrema cumplicidade
Num jogo de sedução
Não pude deixar de amar
Por primeiro o teu sorriso
Depois o teu sério observar
E os teus olhos me seguiam
De longe, sempre a afagar
E mesmo que eu não te visse
Minha a’lma te pressentia
E o meu passo seguia
Na sombra do teu caminhar
E do mais leve dos toques
Da sua barba, o roçar
Fui harpa em som de lira
Assim a me revelar
E da música a melodia
Ficou perdida no ar
E os anos foram indo
E a vida foi ficando
Cada vez mais a vagar
E no finito do tempo
E no infinito do amar
Eis nos hoje a sonhar
Com o dia que se foi
Com o ano que passou
Com a vida a passear
E da paixão de outrora
Ficou guardado o vulcão
Hoje sou lava que chora

Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

13 agosto 2010

A labareda e o mar


Lá do alto da montanha
Vejo luzes a vagar
Lamparinas há no solo
E estrelas no céu a brilhar

Bem de frente pra você
Vejo luzes a raiar
Nos teus olhos há anseios
Eu não posso duvidar

Lá na linha do horizonte
No universo o descansar
Da penúria e da mágoa
Do pesado caminhar

Enlaçada nos teus braços
Sinto o gosto de amar
Como fruta bem madura
De um raro adocicar

Lá no fundo do oceano
Mora pra sempre o mar
Feito do choro do mundo
E do sorriso do luar

E do fogo a labareda
Jamais há de se apagar
Somos o todo do mundo
Que ninguém vai separar

Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes






11 agosto 2010

Sou deserto...meio e fim


Sou deserto...meio e fim
Sem oásis
Sem transporte
Em chinelas
Sem palácios ou quimera
Sou deserto, meio e fim

Na vastidão de areia
Que fere os olhos
No clarão da aurora
Eu me perco assim
Tórrida sem meio ou fim

No calor que abrasa
Que derrete a neve
Nos contrários pólos
Minhas calotas de mundo
Contraditórias em meio e fim

E sigo buscando
Um não sei que, pra que, aonde
Até encontrar a catacumba
Ou a tenda do sheik mais bonito
Sigo entre meio e fim

 
Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes



09 agosto 2010

Tenho frio...muito frio

Dos meus olhos vertem lágrimas congeladas
Produzidas diretamente pelo coração vazio
Pois tenho frio...muito frio na sua ausência
Que jamais nos uniu de forma encontrada

Minhas mãos inertes que acariciavam seu rosto
Estão reduzidas ao simples movimento do adeus
Como se náufragas em mar de imensidão aposto
Sem porto que nos pudesse receber em naus

E de repente essa nevasca plena que nos abate
No mais recôndito de nossos eus enregelados
Noite se faz pela total ausência de sol e de calor

E se nunca estivemos  juntos em corpos abraçados
Vivemos vergastados pela união  ideal do amor
Daquele tão sincero que nada pede nada espera

...nem frio...nem calor

Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes


08 agosto 2010

Pais especiais


Ao meu pai – Lembro-me de um dia em que eu passeava desesperada o meu livro de botânica pelo gramado, tentando entender todos aqueles diagramas que demonstravam as mais diferentes gramíneas. E você, pai, sentado no seu banquinho especial de lazer, tirando as “tiriricas” da grama, me disse. O que foi! E eu lhe respondi que teria prova ao dia seguinte e não conseguia entender a matéria. E você, puxando com cuidado da terra, arrancou uma gramínea em que se vislumbrava, com clareza, todas as suas partes desde a raiz às folhas. Mais, ainda, você falou, filha muitas vezes olhamos tanto para frente que nos esquecemos de olhar para cima, para baixo, ou para os lados, e, assim, se torna muito difícil aprender. Pai, você se foi e eu aprendi a olhar para cima e vislumbrar você entre uma nuvem e outra ou entre um raiozinho de sol e outro e agradecer a Deus a felicidade que foi haver tido você por meu pai, permitindo-me a possibilidade de olhar para baixo e abaixar-me para reconhecer nos passos a beleza e a constituição do caminho e a olhar para os lados para saudar no outro o elo de sabedoria que soma a mim. Pai eu te amo eternamente.

Ao meu marido, que se fez pai em mim – Lembro-me da sua alegria contagiante ao nascimento de cada um dos nossos dois filhos e do amor que você revelava em tudo o que partilhava com eles, desde os “origamis”, que desde pequeninos eles aprenderam a fazer, traduzindo a sua imensa paciência e carinho inesquecíveis, como sintonia plena de vida. Lembro-me de você como Peter Pan, vibrando a cada festa de aniversário, de formatura, desde o pré até onde você conseguiu chegar, com cada um deles, antes da sua partida derradeira ao etéreo. Lembro-me, ainda com a mesma euforia, do seu companheirismo durante nossas vidas assim em elo, mais ainda durante a gravidez e depois a cada etapa de vida vencida com eles e por eles, nossos filhos. Ka eu te amo eternamente.

Ao meu amigo, pai assumido, pai leal, companheiro e repleto de amor, sábio na espera, atento a todos os sinais, alegre, aprendendo com o filho, buscando entender cada pedacinho do caminho e muitas vezes angustiado por não consegui-lo. Sua sinceridade, meu caro, é algo que nunca me esquecerei. Lembro-me de vê-lo num dos momentos difíceis da vida para o pequenino, quando se lhe foi a avó, vocês ali lado a lado, quietos, mas transmitindo todo o amor e a força pra vencer aquela primeira e tão expressiva ou reconhecida perda. Lembro muito mais e muito admiro você, amigo. Também te amo eternamente, porque amigos também dizem eu te amo.


Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

03 agosto 2010

Oração do reencontro


Preciso encontrar o centro do sentimento
Há muitos minutos da célula que me gestou
Envolvida estou na busca do epicentro
Do sol, da lua, das estrelas, do universo
Em lento movimento repleto de amor

Preciso encontrar o centro do movimento
Da vida latente plenamente presente
Em tudo que me tange a alma dormente
De repente sonâmbula e depois silente
Caminhando de olhos dados com o firmamento

Preciso encontrar o centro do meu norte
Pois lá residem as metas e ideais vagantes
Que reconstroem todos os meus pedaços
Costurados com a linha do horizonte
Retrocedendo rumos com meus pés descalços

Preciso encontrar o centro da minha paz
Para abraçar a noite e tresnoitar o dia iluminado
Sem  esse tormento, esse desejo saturado
Mal acabado num prisma desbotado
No vazio do encanto que seria eu e você

Preciso encontrar o centro do meu canto
Modulado em nova e simples melodia
E no reencontro cantar todo o encanto
Que será seguir daqui pra frente sem retorno
Indo diretamente ao meu próprio encontro


Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes