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29 julho 2011

Encanto


E do encontro
Fêz se o encanto
Do reencontro assim
Mantida a alquimia
De toda nossa alegria
No vai e vem dos anos
Vimos flores nas janelas
Frutos caídos ao chão
A primavera brotando
Em todo nosso coração
O inverno nos fez mais perto
No acalento do calor
Desse tão intenso amor
E assim chegamos ao outono
Como frutas de uma época
Em que temos o exato gosto
Da pitanga e do cacau
Que somados fazem
Nossos lábios puro mel
Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

23 julho 2011

Olá vasto mundo dos normais!

Olá soberana face!
Desse homem tão bonito
Que não sabe que a juventude passa
Que tem duas pernas esculturais e sãs
E tanto se lhe dá se aquele que ultrapassa
Usa um par de muletas e tanto se cansa
Abre a porta do carro e se acomoda
No convencimento pleno de sua superioridade
Incapaz de oferecer carona na solidariedade
.
Olá lindos olhos da cor do céu!
Dessa mulher tão linda
Que se esquece que o céu se embaça
Que não sabe que com os anos a catarata grassa
E não consegue ver a mulher cega que passa
E que por pouco escapou de ser atropelada
Tão segura do caminho andava
Nos minutos do semáforo contados
Sem saber que o aparelho desgovernado estava
.
Olá transeuntes robotizados em moto contínuo!
Em vertiginosa correria sem sentir o coração que bate
Sem considerar a vida que pulsa pelos raios de sol que vêm
Coroando tanto assim tantas cabeças
E suprindo de energia o asfalto ácido das calçadas
Sem conseguir beijar a terra
Nem uma criança adormecida no meio fio da rua
Ou sequer tantos diferenciados que olham extasiados
A plenitude de serem assim brilhantes e tão bem arrumados
.
Olá jovens que carregam tão cansados seus umbigos!
Transformados em razão de serem o ter
E imaginam no meio de seus brinquedos especiais
Guardados no baú da infância tão presente
O pai e a mãe objetos do seu crescer
Assim tão vitaminados
E postos pra dormir no ostracismo destinado
Pelos seus ideais egoístas de crescer sem acrescer
Sem ver, sem se doar, sem se incomodar, sem nada mudar
Olho pra todos os que passam e digo girem a cabeça
.
Olá criança que acaba de nascer!
Numa cesárea marcada depois de um ultrassom xereta
Que vislumbrou seu sexo invadindo sua intimidade
No berço diferente do que soube fazer José
E que no seu caso é cama acrílica inundada de luz fria
Sem que em qualquer momento lhe banhe o sol
Junto com outros, assim tão iguaizinhos
Sem que as divisórias lhe permitam desde esse momento
Oferecer ao igualzinho diferente o seu alento
.
Por você eu oro e lhe rebatizo... Esperança
.
Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

15 julho 2011

Sortilégio



Cai a chuva em mim
E as flores do jardim
Em perfumes tantos
Entre eles do alecrim
E as margaridas
Me vestem
E o sol
Em anéis de ouro
Me adorna e orna
Piso descalça na terra
Montada em Pégasus
Abraço o outeiro
Pisco pro céu
Recebo da estrela
Que cai e cai
Um sortilégio
.
Cai a chuva em ti
Sois Pégasus
E as lamparinas da rua
Fazem o papel da lua
Desenhando a mim
E me procuras
E não me vês
Escondida estou
Longe bem longe
E então você abraça
O candieiro
Percebe a queda
Da estrela
Que do céu
Se esvai e cai
Num sortilégio
.
Cai a chuva em nós
Desvestindo margaridas
Apagando as lamparinas
Em meio ao cheiro do alecrim
Perde-se o ouro dos anéis
Desfalece o outeiro
Resta o abraço forte
Iluminando a lua
Desenhando a nós
Corpos descalços
Em Pégasus
À sombra do candieiro
Segurando a estrela
Que cai do céu
Unidos num sortilégio
Inteiros de amor
.
Criado e Postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

10 julho 2011

A saga da rouxinol sem asas

Era uma rouxinol
A quem Deus permitiu
Viver sem as duas asas
Retiradas que lhe foram
Sem lhe impedir o vôo
D’alma em seu cantar
.
Seu ninho ao res do chão
Permitia que caminhasse
Até quilômetros por dia
Na sua fragilidade
Em passo pequenininho
Pros filhos alimentar
.
Conseguia aquele pássaro
Conhecer qualquer raiz
E no céu aprofundar
A visão de seus olhinhos
Que nada deixavam escapar
Em extremo repensar
.
Sabia bem das araras
E das maritacas a grasnar
O tempo inteiro a voar
De lá para cá
De cá pra lá
Vaidosas do seu plumar
.
Conhecia os abutres
Que a queriam carregar
Como se em aconchego
Tentando abocanhar
Apenas o seu saber
Por seu longo caminhar
.
E a águia tão esperta
Sempre a lhe rodear
Gravitava como sombra
Pronta para atacar
Por que não admitia
A rouxinol a cantar
.
Forte por ter que ser
Motivada a viver
Tornou-se consertadora
Das quebras que a vida traz
A quem lhe vão até hoje
Todo dia procurar
.
Se teve amigos, não sei...
As asas os carregaram
Aos píncaros de seu sonhar
Na vaidade de seus vôos
Sem nunca pra baixo olhar
Somente dela lembravam
Para algo a consertar
.
Mas de repente
Num grito de grande dor
Chorou seu canto primeiro
Num verdadeiro concerto
Quase morta em desamor
Vendo todos debandarem
.
Mas esse canto sonoro
A fez nu’alma a voar
E ao Criador abraçando... disse:
Perdôo a parte do bando
Que nunca pode emprestar
Um pedacinho das asas
Pra me ajudar a voar
.
E de repente o seu ninho
Em imenso iluminar
Abrigou vários anjinhos
Que estão até agora
Junto dela
A consolar
.
O que cada um tem com isso?
Fico aqui a perguntar...
.
Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

06 julho 2011

Cotidiano


Desperta despertador
Desperta
E a camisola diáfana
Tanto quanto a cortina
Da janela
Escorrega
E anuncia
É dia
Abre-te chuveiro
Fecha-te porta
Encerra a comporta
Do meu eu
Veste a roupa
Apressada
Amassada
De tanto ficar guardada
Presa na estação passada
Que de cansada
Foi embora
Degola o calor do café
Que na garganta escorrega
E cai
No estomago adormecido
Desce pela ante-sala móvel
Chamada elevador
Alcança o carro
Gira a chave
Desperta
Desperta
Motor
Que esvaído
Inverte as letras
E fingindo-se de morto
Resolve modificar
Já de início
O meu cotidiano
Que então....acorda
O meu pensar
Ir...ou ficar?
Realidade...ou sonhar?

Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
Inspirada num momento em que a bateria do carro arriou

03 julho 2011

Despida de ti

E nesse instante mágico
Em que me lanças ao vento
Despida de ti
Vou
Ao âmago de mim
E sobrevivo

Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes