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29 novembro 2012

Assim.. tão outonal


Finalmente se redescobriu
Dos necessários véus da coragem
Que recobrem a fragilidade
Por absoluta necessidade
.
E pode se perceber chorando
E sorrindo naturalmente
Expressando sentimentos
Atrofiados pelo dispêndio
.
Dispêndio de força
Buscada na seiva das raízes
Dos antepassados
Em soma secular
.
E agora é a hora...minutos
Da maciez do algodão...na calma
Da nitidez do céu azul...na alma
Da tepidez do sol...na pele
.
É hora de carinho...presenças
De atenção, de passeios....leveza
Brincadeiras e sorrisos....asas de passarinho
É serenamente vez de ser...simplesmente ser
.
Reinventada...novamente
Meio menina, meio mulher, meio filha
Meio mãe, meio esposa, meio irmã
Em espectro feliz de vivência...assim tão outonal
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

25 novembro 2012

Minha nudez não será castigada


Que me perdoe Nélson Rodrigues
Por contrariá-lo
Porque estou jogando falsas roupas fora
E esfoliando a hipocrisia a cada dia
.
Que me perdoem todos os inexpressivos
Por contrariá-los
Porque estou tirando a máscara
E desnudando o olhar ao caminhar
.
Que me perdoem todos os inconformados
Porque em movimento
Os remendos todos foram atirados fora
Porque me fiz poesia vestida de Universo
.
Que me perdoem todos os incógnitos
Porque minha escrita se faz real caminho
Em que minha nudez desfila
No amplo espectro das reflexões
.
Que me perdoem também os pregressos
Em todos os seus retrocessos morais
Porque a minha voz será sempre canto de arauto
Retificando injustas situações
.
E ainda que me perdoem os modelistas
Porque nacarada como asas de borboletas
Saio às ruas è às vielas de mim
Buscando novos tons do arco íris sem fim
.
E por fim que me perdoem os intrigados
E também os intrigantes
Pois minha nudez não será castigada
Porque vestimenta de minha própria alma
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
Nos escaninhos
Do meu coração
Você ficou guardado
Pra sempre
Inteirinho
Nesse imenso amor
.
Nas esquinas de minh’alma
Feitas das quinas  da vida
O perfume do amor perfeito
Rescende ainda pelos caminhos
Da história que ficou
Dos tempos idos do meu eu ao  teu
.
E nos meandros da memória
Nos hieróglifos do espírito
Arquivos que a alma compôs
Reside o nosso segredo
Que hoje nos separa e une
Para sempre.....
 
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

21 novembro 2012

Rodopio II


No meio da pedra
A fonte jorrava
A água do rio
Que o mar tomava
.
No meio da terra
A grama grassava
E a erva daninha
Se acomodava
.
No meio do espaço
Acima da nuvem
A lua dormia
E o sol se escondia
.
No meio do tudo
E do nada talvez
A flor renascia
Despetalada...
.
E a aurora chegava
E o orvalho caía
E a serra nublada
Escondia a estrada
.
E os amores perdidos
Desfeitos no tempo
Levados ao vento
Não mais se encontravam
.
E a flor renascida
Semente plantada
No meio da vida
Rodopiava...
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes


Rodopio I


Na sombra de estrelas
Lua adormecida
No baile dos corpos
Eloquentes
Cada contato
No  rodopio
É fala que cala
Em muda linguagem
Do vocabulário
Falam ... somente
Os sentimentos
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

16 novembro 2012

Narcisos

Dói-me a alma
De maneira insólita
Por me ver assim
Tão consumida
Pelos egoísmos
Insensatos
Dos inconsequentes
Que inconscientes
Sequer são capazes de saber
Da dor que causam
E que provocam
A cada cobrança
A cada pedido
Quando tudo o que espero
Cansada de ser e de bastar
É o silêncio da mudança
Para que possam deixar
De ser Narcisos
E verem refletido
No espelho cristalino
Do amor ou da amizade
O meu próprio eu
E que pelo telefone
Ou por telepatia
Pela oração até
Descubram a emoção
E queiram saber
Verdadeiramente
Como estou
Onde estou
E realmente
Quem para eles
Eu sou....
Por que me dói a alma
Essa tamanha solidão...
Na presença de tanto casuísmo
E tão grande desatenção...
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

13 novembro 2012

Irredutível mesmice?



Caminhando pelo etéreo custo muito a aterrissar no plano terreno e, hoje, quando aterrissei, percebi quão difícil é para as pessoas voarem...em direção...ao seu próximo mais próximo...seja ele quem for....e s p o n t a n e a m e n t e.
.
E o mais interessante é que tanto consigo planar quanto fincar os pés na terra, com a mesma noção espacial e especial de quem sou, o que faço e o que desejo, realizando os resultados tanto num campo como n’outro.
.
E perscrutando com o olhar d’alma um pouco mais além eu percebi quão ajustados os seres humanos estão à obrigatória limitação corpórea sem perceberem que ela é um instrumento necessário para a sobrevivência...apenas... neste planeta.
.
E essa limitação corpórea vai desde o corpo ao copo à cama à casa ao carro aos filhos à esposa ou ao marido aos amantes à indumentária ao padrão do restaurante à marca do carro ou do computador ou a tudo aquilo que os professores nos ensinaram, lá nos primórdios da infância... substantivo é tudo aquilo que se pode pegar.
.
E poucos se fixam no adjetivo...objetivo real...no sentido verdadeiro...e como isso é notório...porque somente o adjetivo qualifica... e as pessoas tendem a somar “pseudos adjetivos” sem buscarem-nos em suas essências, como se substantivos, de fato, fossem e acrescentassem itens a um patrimônio “moral”, tão falso quanto, e material, como se tudo fosse a mesma coisa....
.
E aí vemos estupefatos moças e moços, senhores e senhoras...corporificados...com seus copos...via de regra....mesmo que sejam com bebida alcoólica ou água....ou ainda uma xícara de café....competindo e competindo e competindo....quanto às qualidades dos bens materiais a que se apegam e pelos quais, pasmem, se tornam absolutamente iguais...ou do quanto o trabalho os estressa...ou de frases feitas que repetem e repetem e repetem como se fossem engraçadas...que...incapazes de uma conversa produtiva...terminam seus encontros....satisfeitos....pela grande diversão auferida nessa vazia e vaga competição....quer seja em casa ou em algum imenso salão.
.
E eu olho e eu olho e eu vejo e quanto mais eu olho e quanto mais eu vejo...chego à conclusão de que as pessoas se fazem apenas eventuais colegas...sem conseguirem se fazer amigas....na mesma proporção que o significado do substantivo, quer próprio ou comum, é completamente diferente do significado do adjetivo.
.
.Vale, vale mesmo, pensar que para que o adjetivo exista o substantivo é fundamental... tanto quanto o material é fundamental para a nossa sobrevivência....neste planeta....mas o adjetivo.... vai além....e acredito até que...é o que torna diferente de fato...ampliado ..... qualquer substantivo....por isso a amizade é imorredoura...sem importar onde se encontrem os amigos...feitos qualidade.
.
E nessa crônica indago o que fazer com esse cansaço que o substantivo traz.... ao ver ao meu lado tantos colegas...politicamente corretos..... em mesuras e posturas...querendo encontrar amigos.....que me parecem cada vez mais longínquos do sentido que a amizade tem....por isso acho que cada vez mais custo tanto a aterrissar...nessa mesmice. Irredutível mesmice?

 Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
 

11 novembro 2012

Eu trilha...rastro sou

Era linda a trilha
Repleta de luz
Que se apagou
Sem lua
Sem sol
Sem o sal da vida
.
Era linda a trilha
Porque perfeito aquele companheiro
Que nos seus rastros
Deixou pegadas
Em cada flor
Por ele cultivada
.
Era linda a trilha
Enquanto árvore frondosa
Servi a sombra
E o refrigério
Na força de meu caule
Na veracidade da minha raiz
.
Era linda a trilha
E hoje totalmente abandonada
Velha árvore não mais respondo
Nem pela sombra
Sequer pela raiz
Menos ainda pelo refrigério
.
Isolada me fiz morada
Apenas da passarada
E o companheiro bem à frente
Vai carregando raios de sol
Pegadas do luar e as flores
Que só a elas... ele cultivou
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

09 novembro 2012

Um dia...

Um dia
Em qualquer momento
No meio do trânsito
Vaivém de almas
Que chegam e que se vão
No silêncio
Ou na agitação
Depois de muita negociação
Eu morrerei
Mas a minha voz...não
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

04 novembro 2012

Outono...uma triste visão - Parte I

 
Chegou o outono
E com ele as folhas vermelhas
Que queimam os olhos
E incendeiam o coração
Perdendo para sempre
O perfume inebriante e próprio
Dos dias que se foram
E assim como as folhas caem
Os aparentes velhos trôpegos
Com alma de poeta
E ideais capazes
Em capacidade de ganho e sustentação
São tratados sem interesse
Como se fossem fardos
Que nunca serão
Porque já não aproveitam
Aos interesses egoístas
Dos que lhe sugaram
Desde o leite
Até a capaz idade
E quantos nunca se lembraram
Em devolver carinho
Companheirismo e companhia
Trocando tudo por moedas
Feitas escambo
Como se fôssemos todos
Notas Fiscais ambulantes
E quantos sugaram o que rendiam
Em capacidade
Em sagacidade
Lealdade
Sinceridade
Tenacidade
Dedicação...enfim... amor
E sem miopia viam
Quantos bajuladores
Malabaristas e sedutores
Deles se valiam
E mesmo assim os serviam
No interesse maior do ser
Que cresce, se engalana e esquece
Ou desconhece
Tenha a idade que tiver
Que as folhas de outono
Queimam os olhos
E incendeiam o coração
Quando trazem em si, o mais letal dos venenos
Chamado...ingratidão
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes